MANAUS- Com três horas de duração divididas em três atos, a obra internacionalmente prestigiada “Peter Grimes” voltou ao palco do Teatro Amazonas e conquistou a atenção do público local que prestigiou o espetáculo, além de visitantes de vários países do mundo e principalmente da América Latina, um público especializado que está na capital amazonense por ocasião da conferência da Ópera Latinoamérica (OLA).
O maestro Luiz Fernando Malheiro conta sobre a escolha de repetir a montagem nesta edição comemorativa de 25 edições do Festival Amazonas de Ópera. “Estamos apresentando ‘Peter Grimes’ de novo devido ao sucesso que essa obra teve ano passado, ganhamos prêmios inclusive com essa ópera e achei importante repeti-la esse ano principalmente durante essa reunião da OLA que trouxe pessoas de quase todos os teatros da América Latina aqui, críticos do mundo inteiro, e achei que era legal mostrar uma montagem que foi bem sucedida”, declarou.
“O Teatro Amazonas é bastante visado e bastante conhecido internacionalmente. O fato de ser um teatro vivo, com orquestra, coro, balé, é muito importante e ao longo dos anos a gente conseguiu o reconhecimento internacional pela qualidade do que a gente faz que nos deixa muito contentes. O encontro da OLA aqui em Manaus é resultado dessa importância que a gente angariou ao longo destes anos”, concluiu Malheiros.
Visceral e Atual
A solista Daniella Carvalho interpreta Ellen, uma das protagonistas da obra. Sua personagem traduz a sensibilidade e a profundidade feminina frente à violência naturalizada entre as massas e que era ainda mais intensificada no período em que Peter Grimes viveu.
“É uma honra estar aqui no 25º Festival Amazonas de Ópera para todos nós cantores brasileiros porque certamente é o festival mais importante brasileiro e da américa latina. Fazer o ‘Peter Grimes’ mais uma vez é lindo porque é uma obra muito intensa, muito humana, muito salvadora em muitos aspectos porque trata de questões muito importantes na vida de nós todos até hoje, como saúde mental, inclusão, violência com a mulher, com a criança, respeito, acho que não só para mim, mas para todos, é uma experiência incrível poder ter ‘Peter Grimes’ de novo”, declarou a artista.
“Minha relação com o papel é uma relação de muito amor, muita entrega e acho que hoje estamos todos assim muito entregues à música e a beleza desse aniversário do FAO”, concluiu Daniella.
O público local também prestigiou com atenção a jornada de Peter Grimes. O médico geriatra Euler Ribeiro esteve na plateia e identificou diversos elementos em comum com o povo amazônida na obra. “É a primeira vez que vejo ‘Peter Grimes’. As pessoas que já tinham visto fora essa obra acham que isso é uma expectativa de vida que passa por todas as questões, passa pelas diferenças sociais, mostra as pessoas cujo comportamento social é menos privilegiado”, pontuou.
“Tem todo tipo de pessoa, tem os bandidos, as prostitutas, os alcoólatras e tem os trabalhadores. Os trabalhadores, de alguma forma, dependem dessas pessoas porque isso acontece na frente de uma cidade, numa praia, que a maioria das pessoas dependem do que o mar oferece e o mar ficou revolto e começaram a perder o ajudante que estava treinando pra ser pescador, perderam tudo que eles tinham dentro do barco, as redes, as panelas que eles levavam para botar os peixes, um deles voltou, que quer que passe o temporal para ele recuperar tudo que ele vendeu”, finalizou Euler Ribeiro.