Pouco mais de dois anos de iniciada, a pesquisa intitulada “Avaliação das Características Epidemiológicas e Moleculares de Mulheres Tratadas com Lesões Precursoras de Câncer de Colo de Útero no Amazonas”, desenvolvida pela Fiocruz Amazônia, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), chegou aos primeiros resultados que permitiram identificar proteínas características de lesões precursoras de alto grau (NIC 2 e NIC 3) em pacientes diagnosticadas com a doença no Amazonas. O Estado apresenta dados preocupantes, sendo o primeiro lugar em incidência entre as mulheres e em causa de óbitos nos últimos cinco anos. O trabalho, feito por pesquisadores amazonenses, acende uma luz para que, num futuro próximo, seja possível dispor de dispositivos tecnológicos que permitam auxiliar no diagnóstico e, por conseguinte, reduzir a incidência de casos.
Doutora em Bioquímica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Priscila Ferreira de Aquino, que coordena o projeto, explica que a partir dos resultados encontrados pretende-se validar algumas proteínas diferencialmente expressas nas lesões de alto grau, especialmente em NIC 3 para a elaboração de um kit de diagnóstico molecular, a partir de um painel de proteínas característico dessas lesões. “Dessa forma, a disponibilidade dessas informações em trabalhos futuros pode auxiliar a propor um protocolo para o melhor monitoramento e avaliação desse público”, afirma.
A pesquisa foi um dos 13 projetos contemplados pelo edital do Programa Pesquisa para o SUS, Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), da Fapeam, no ano de 2018. A pesquisadora ressalta que a principal contribuição do trabalho é a possível aplicabilidade ao SUS, a médio e longo prazo. “Trata-se de uma pesquisa pioneira no nosso Estado, sendo o primeiro relato do perfil regional a nível de proteínas de pacientes com lesões precursoras de câncer de colo de útero e possíveis proteínas envolvidas nesse processo”, explica, destacando a importância do estudo para o Amazonas, onde a incidência de casos e óbitos de mulheres por esse tipo de câncer é 102,3% maior que a média brasileira.
“Essa condição nos levou a escolher essa temática para trabalhar no projeto e contribuir com conhecimento visando auxiliar um diagnóstico precoce dessas lesões”, salienta Priscila. Em 2021, foram estimados 66.280 casos novos no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), dados mostram que a taxa bruta, que projeta o número de casos para cada 100 mil mulheres, é de 16,35 para o Brasil e 33,08 para o Amazonas. Em se tratando de Manaus, onde está concentrada a maior parte dos casos, essa taxa sobre para 51,84.
Um dos grandes desafios na saúde pública e privada é conscientizar sobre a importância da prevenção à doença com ações individuais e coletivas. “Estamos dando continuidade aos estudos a partir desses resultados iniciais encontrados”, esclarece. No total, a pesquisa envolveu um universo de 91 mulheres diagnosticadas com lesões precursoras de alto grau (NIC 2 e NIC 3), as quais foram submetidas a análises histopatológicas e citológicas, molecular quanto à presença do HPV e proteica.
“Em resumo, verificamos que a maior parte das pacientes do nosso estudo apresentava o tipo histológico NIC3, que é a lesão mais próxima a progredir para o câncer de colo de útero, se não tratado; e ainda a infecção pelo HPV 16, de alto risco oncogênico, foi detectada apenas nesse tipo histológico na faixa etária dos 40 anos. Quando fomos analisar o perfil das proteínas dessas pacientes, encontramos proteínas que podem estar associadas a uma possível persistência ou progressão molecular dessas lesões”, detalha a pesquisadora, salientando que o trabalho contribuiu para o maior entendimento do processo de evolução das lesões precursoras (NICs).
A pesquisa entrará em fase de validação e as análises continuarão sendo feitas pela equipe do Laboratório Diversidade Microbiana da Amazônia com Importância para a Saúde (DMAIS), do ILMD/Fiocruz Amazônia, para que possam trazer incremento tecnológico como um dispositivo para auxiliar o SUS e subsidiar maiores informações para os programas de rastreio nessa população.
IMPORTÂNCIA DO PREVENTIVO
Além da vacinação contra o HPV, vírus que infecta a pele ou mucosas e pode causar o câncer de colo de útero, o exame preventivo é uma importante ferramenta no diagnóstico de irregularidades no aspecto das células do colo uterino. “As descobertas realizadas a partir das pesquisas ajudam muito no processo de entendimento das infecções mas quanto mais precoce for o diagnóstico maiores são chances de cura pelo tratamento das pacientes diagnosticadas”, explica a pesquisadora Priscila Aquino. O preventivo é considerado o principal método para se obter o diagnóstico precoce de lesões cancerígenas no colo do útero, antes mesmo que o quadro evolua o suficiente para externar sintomas notáveis. O HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano) pode infectar a mucosa oral, genital ou anal das pessoas, provocando verrugas anogenitais (na região genital e ânus) e câncer, a depender do tipo de vírus, caracterizando-se como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST).
MARÇO É REFERÊNCIA
Não se sabe ao certo a origem da comemoração, talvez por se tratar do mês da mulher março se tornou referência quando o assunto é saúde feminina. A campanha Março Lilás tem como objetivo conscientizar a população sobre a prevenção e combate ao câncer de colo uterino.
O câncer de colo de útero é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano (HPV). A infecção genital por esse vírus é muito frequente e não causa doença na maioria das vezes. Entretanto, em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer.
A importância da conscientização sobre este tipo de câncer, é que na grande maioria das vezes ele pode ser evitado. A principal forma de prevenção, é a vacina contra o HPV (disponível para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos), podendo prevenir 70% dos cânceres de colo do útero e 90% das verrugas genitais.
Outra forma de prevenção é o uso de preservativos durante a relação sexual. Além disso, o exame preventivo (conhecido como Papanicolau), deve ser feito periodicamente por todas as mulheres após o início da vida sexual, pois é capaz de detectar alterações pré-cancerígenas precoces, que se tratadas, são curadas na quase totalidade dos casos, não evoluindo para o câncer.
Sobre a escolha da cor lilás, acredita-se que a origem está relacionada ao movimento que ocorreu na Inglaterra, em 1908, em que as mulheres lutaram pelo direito do voto. Nesse episódio, que ficou conhecido como Movimento Sufragista, as mulheres elegeram as cores lilás, branco e verde como símbolos da campanha.