SAÚDE- De acordo com a pesquisa Ipec de 2022, os cigarros eletrônicos, “vapes”, são usados por mais de 2,2 milhões de brasileiros, além dos quase 6 milhões de adultos que usam o cigarro tradicional e já experimentaram o produto.
Impactos na saúde
Ao abordar os malefícios ligados ao cigarro convencional, os pulmões são imediatamente lembrados pelos especialistas. Não é diferente com os vapes.
“Os pulmões são órgãos que se desenvolvem até em torno dos 20, 25 anos de idade. Ora, se órgão ainda está se formando e você já está colocando substâncias químicas nele, esse processo não ocorrerá do jeito que deveria”, ensina Paulo Corrêa, pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).
Ainda segundo o médico, isso significa que os usuários de vape começarão a vida adulta com a função pulmonar abaixo do que seria o usual.
Além disso, eles correm maior risco de desenvolver doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) cedo na vida.
Há ainda chance de encarar a chamada lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos (Evali, na sigla em inglês).
Até 2020, foram registradas mais de 2 800 hospitalizações e 68 mortes por conta desse quadro.
Os sintomas são semelhantes aos da covid-19, como falta de ar, tosse, dor no peito, febre e calafrios, diarreia, náusea, vômito e dor abdominal.
Uma pesquisa publicada na revista World Journal of Oncology mostrou que fumantes de cigarros eletrônicos são diagnosticados com câncer quase 20 anos mais cedo que usuários de tabaco tradicional.
Já outro estudo, do Hospital para Crianças Doentes (SickKids), em Toronto, no Canadá, indicou que jovens que usam, ou já usaram, cigarros eletrônicos são quase duas vezes mais suscetíveis a ter estresse crônico do que aqueles que não utilizam os dispositivos.
Os vapes têm consequências no sistema imunológico.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, descobriu que a inalação do vapor, pode impedir o funcionamento normal das células imunológicas capazes de enfrentar doenças.
Uso por jovens
E cabe reforçar: um dos grandes problemas é que os cigarros eletrônicos estão sendo usados sobretudo por jovens que nunca fumaram cigarros convencionais antes.
De acordo com o relatório Covitel, a maior prevalência de experimentação do cigarro eletrônico ocorre entre os jovens de 18 a 24 anos.
Um levantamento feito pela Food and Drug Administration (FDA) estimou que mais de 2 milhões de estudantes do ensino fundamental e médio das escolas de lá usam cigarros eletrônicos.
De acordo com uma pesquisa de 2022 feita pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), a chance de um adolescente que experimentou um cigarro eletrônico passar a fumar o cigarro tradicional é quatro vezes maior em relação àqueles que nunca consumiram o dispositivo eletrônico.
A percepção de que o cigarro eletrônico é completamente diferente do cigarro tradicional incentiva o consumo jovem.
A própria nomenclatura mais usual denuncia isso: ao invés de cigarro, são ‘vapes’ ou ‘pods’.