Manaus (AM) – Uma das lendas que, certamente, o povo do Amazonas conhece e que já serviu de enredo até para Hollywood, é a famosa “Lenda da Cobra Grande”, conhecida, ainda, como “Boiúna”.
A serpente seria tão gigantesca, habitando as águas dos rios Negro e Solimões que, ao rastejar pela terra, seus sulcos acabam formando leitos de igarapés.
Origem
Como surgiu a crença de que uma enorme cobra habitaria as profundezas dos rios da Amazônia?
Existem diversas versões desta história, dependendo da localidade. Entre os ribeirinhos, a mais comum seria de que uma indígena ficou grávida de uma cobra, dando à luz a duas crianças gêmeas, que nasceram com aparência de serpente.
O menino se chamava “Honorato” ou “Notaro” e a menina “Maria Caninana”. Horrorizada com a aparência das crianças, a mãe as lançou no rio.
Os dois tinham uma diferença muito grande em suas personalidades. Enquanto o garoto tinha um bom coração e visitava a mãe, a Maria era muito perversa e guardava muita mágoa de ter sido jogada na água.
Por conta disso, ela descarregada sua fúria afundando embarcações, assustando animais e desprezando sua genitora. O irmão detestava suas atitudes, presenciando o sofrimento que Maria infringia nas pessoas.
Foi então que Norato decidiu que era momento de colocar um ponto final nas atrocidades da irmã e resolveu matá-la. Ele também podia se transformar em um homem comum durante o dia. Porém, de noite, voltava a ser cobra e tinha que retornar às águas.
Para quebrar o encanto, os ribeirinhos contam que alguém deveria atingir a cobra na cabeça de alguma forma ou colocar leite em sua boca.
Todavia, ninguém tinha coragem de se aproximar do animal. Depois de muito sofrimento, um soldado corajoso libertou o rapaz da maldição e o ‘Norato’ pode viver junto de sua mãe.
Outra lenda
Já outra versão, conta que uma mulher muito má, pertencente a uma tribo da região amazônica, matava e devorava crianças.
Revoltados, os habitantes da aldeia resolveram que ela deveria morrer, sendo jogada no profundo rio. Só que ela escapa da morte, salva por uma espécie de demônio, conhecido como “Nhãgá”.
Com isso, eles se casam e o filho da relação é transformado em cobra pelo pai. A criança cresce de forma desproporcional e não tendo mais peixes nos rios para se alimentar, começa a devorar os habitantes das tribos, ribeirinhos e quem se aproximasse de seus locais de morada.
Quando a mãe da serpente morreu, o animal ficou tão triste e furioso que resolver ficar em estado de letargia, morando embaixo de cidades próximas de rios. Alguns falam que ela possui olhos que se tornam tochas de fogo.
Mesmo com tantas histórias em torno do animal, o fato é que a Amazônia é lugar de serpentes gigantescas. A maior e mais conhecida da região é a sucuri, que pode chegar até dez metros de comprimento.
Mulher diz que matou cobra grande
Lendas à parte, há quem afirme que cobras desse tamanho são reais e que não é apenas história repassada de geração em geração.
A ribeirinha Dinha Ferreira, 53 anos – a Dinha “Rabetão”, como é conhecida em Urucurituba (município distante 273 quilômetros de Manaus) garante que não somente enfrentou uma cobra grande, mas que matou o animal com dois tiros. Ela afirma que a serpente estava pronta para lhe dar o bote.
“Há dez anos eu morava na comunidade do ‘Carneiro’. Como eu gosto de flores, atrás do terreno onde morava haviam muitas delas, que gostava de colher para colocar no meu vaso. Saí de casa e fui até lá, caminhando e não prestei atenção em algo que estava se mexendo. Pensei que fosse um pedaço enorme de madeira. Entrei na mata, peguei as flores perto de uma plantação de abacaxi e voltei por um caminho diferente. Quando dei por mim, enxerguei aquela ‘bichona’ enorme de boca aberta, pronta para dar o bote. Os olhos dela eram vermelhos cor de ‘sangue’. Parecia que iam pegar fogo! Fiquei aterrorizada”, relata.
A testemunha afirma que precisou reunir todas as forças para enfrentar a cobra grande. Por sorte, tinha o costume de sair de casa armada.
“O animal me encarava com ‘ódio’. Ela botou a ‘cabeça em pé’, que deveria ter uns 40 centímetros, querendo me devorar. Pois não contei outra, dei o primeiro tiro de espingarda. O bicho ficou se batendo todo e dando uns ‘gritos’ estranhos que parecia que iam derrubar a mata. Tomei coragem e dei o segundo. Foi quando ela caiu na minha frente. Estava me tremendo toda de ter encarado aquilo. Foi preciso coragem”, desabafa.
Testemunha
Ao jurar que a história é real, Dinha diz que seu ato de coragem contou com uma testemunha: o vizinho, seu ‘Biro’.
“Ele correu e veio falar comigo, depois de ouvir o reboliço que foi na mata. Me falou: ‘Dona Dinha, não acredito que a senhora conseguiu encarar esse bicho. Essa cobra já comeu uns três bois meus’. Ela era imensa e muito grossa. Devia ter uns 17 metros. Não sabíamos que cobra era. Não era nem anaconda. A gente não sabia dar nome. No outro dia, de tão apavorada de viver lá, arrumei minhas coisas e fui para cidade [Urucurituba], mesmo”, finaliza.
Embora a história de Dinha seja de coragem, é importante lembrar que matar animais silvestres é crime.
“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena – detenção de seis meses a um ano, e multa”.
E você? Acredita nela? Deixe seu comentário para nós e aguarde o próximo “Lendas Amazônicas”.
*A reportagem pertence a Carlos Araújo do portal Em Tempo/ Edição Web: Bruna Oliveira – Em Tempo/ Designer: Ítalo Chris – Em Tempo
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