ESPORTE-As perdas de Apolinho, Antero Greco e Silvio Luiz, nesta quarta e quinta-feira, deixam legados imensuráveis ao jornalismo esportivo e futebol brasileiro. Antes de trabalharem nos veículos de imprensa, eles já carregavam a paixão pelos seus times de coração e, apesar da imparcialidade ligada à profissão, essa relação marcou a carreira dos três comunicadores.
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Washington odrigues, o Apolinho
Não é exagero falar que Apolinho e Flamengo andam lado a lado. O radialista e comentarista esportivo, de 87 anos, nunca escondeu a relação sentimental que tinha com o clube. Foi justamente essa paixão que o levou a passar pelo maior desafio da sua vida: ser treinador do Flamengo no ano do centenário.
O Flamengo vivia a comemoração dos 100 anos e Kleber Leite, então presidente do clube, convidou Apolinho para assumir o comando do time. Apesar de treinar o Flamengo em um ano de celebração e ter à disposição o chamado “ataque dos sonhos”, com Romário, Edmundo e Sávio, a passagem de Apolinho durou apenas 26 jogos.
Questionado, na época, se aceitaria outro convite para comandar a equipe rubro-negra, Apolinho sequer pensou.
— Pelo Flamengo, sim. Se me chamarem para pegar no gol, aos 75 anos, eu vou — afirmou.
Independentemente dos resultados, o tamanho da representatividade de Apolinho no time de coração ficou escancarado no meio do futebol. Mais um exemplo do caso de amor e paixão com o Flamengo é que sua voz marcante criou a anedota “rubro-negro de coração”, que perdura, até hoje, na torcida carioca.
Antero Greco
Ao contrário de Apolinho, Antero, de 69 anos, era mais discreto em expor publicamente sua paixão pelo Palmeiras. Inclusive, ele chegou a reclamar de uma publicação do jornal Folha de São Paulo que revelava seu time de coração.
— Eu quero que o leitor ou o ouvinte possa discordar de mim porque eu falei algo incorreto, fiz uma análise errada, e não por causa do meu time de coração. Em outras editorias do jornal, por exemplo, não existe essa cobrança — destacou.
A lenda do jornalismo esportivo quebrou a regra e falou abertamente, em entrevista ao podcast “Podporco”, sobre as emoções provocadas pelo clube. Ele revelou que já escreveu uma matéria especial, no jornal “Estadão”, para o ídolo Ademir da Guia, que completava 60 anos na época.
Além disso, elegeu o seu melhor Palmeiras de todos os tempos com a seguinte formação: Marcos; Djalma Santos, Gustavo Gomez, Luís Pereira e Júnior; Dudu e Ademir da Guia; Julinho Botelho, Leivinha, César Maluco e Zinho.
Silvio Luiz
O narrador esportivo Silvio Luiz, de 89 anos, tem o coração dividido com dois times de coração em fases diferentes da vida. Na infância e adolescência, o exímio comunicador contou que torcia para o São Paulo, porém, a paixão foi passageira, já que trocou de time por influência de um colega de profissão.
— Quando eu era pequeno, torcia para o São Paulo, mas quando eu vi o símbolo do Botafogo, me apaixonei. É a primeira vez que eu estou contando isso. Não tem nada a ver com ele estar em primeiro — confessou Silvio Luiz, quando o alvinegro liderava o Brasileiro de 2023.
— Eu sou torcedor do Botafogo. Primeiro, porque eu tinha um colega na rádio Guanabara, no Rio de Janeiro, que era botafoguense. Depois, eu amo aquele símbolo. Aquela estrela solitária… parece que está te chamando para pegar no colo — disse.
O narrador, que não gritava gol, mas “olho no lance”, era um grande autor de expressões icônicas — também as adotava. Até seus últimos anos de carreira, vinha renovando e atualizando seu “repertório”.