Manaus (AM) – Quem não conhece a lenda do Curupira? O protetor das florestas é conhecido em todo o Brasil, famoso por fazer os caçadores e aqueles que desejam fazer mal a natureza se perderem nas matas.
O que muita gente não conhece foi como teve início a lenda do homem baixinho com os pés virados para trás e que bota medo no imaginário popular.
De acordo com a lenda, ele é um dos seres que mais causou terror entre os povos indígenas, séculos atrás por ser capaz até de matar quem fosse destruidor da natureza. Além dos calcanhares voltados para frente, o ser seria de estatura baixa, como um menino, cabelos cor de fogo e uma esmagadora força física.
Alguns afirmam que ele é careca e, outros, peludo. Os corpos de seres humanos encontrados em matas, poderiam ser de vítimas do curupira. Além disso, o curupira seria capaz de fazer qualquer um se perder dentro da floresta e nunca mais encontrar a saída.
Por ser temido, povos indígenas, ao entrarem na mata, chegavam a fazer oferendas, no intuito de aplacar a fúria do protetor. Dentre o ofertado, está a cachaça e o fumo que supostamente, é adorado pelo Curupira.
Ele se aproximava das vítimas e a presença é percebida por meio de um assovio constante e contínuo. O curupira podia se transformar em animal e atrair o caçador para uma emboscada, deixando o indivíduo sem saída do local. Contudo, só eram punidas pessoas que caçavam animais por esporte ou o simples prazer de os matar ou destruir a floresta. Os que usavam a caça como forma de suprir sua necessidade de alimento não eram incomodados pelo protetor da natureza.
Uma das maneiras de escapar da fúria do curupira seria amarrar um nó em um pedaço de cipó. Quem desejava entrar nas matas para encontrá-lo acabava confundido, pois seus pés voltados para trás faziam o caçador achar que ele ia numa direção. Quando, na verdade, estava indo em direção oposta.
“Os estudiosos costumam também relacionar o curupira com uma lenda que é conhecida no Paraguai e na Argentina. Essa lenda argentina e paraguaia é sobre o curupi, conhecido como o protetor das florestas e dos animais, porém também um ser com grande apelo sexual.”
Veja mais sobre “Curupira” em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/curupira.htm
Terror na mata
“Aquela coisa me obrigou a atos que jamais imaginei na vida, para conseguir sair dali”. Foram essas palavras usadas pelo comerciante Raimundinho Cabrito de Sá (nome usado para preservar a identidade do entrevistado), conhecido como “Cabritão”, de 45 anos, que se perdeu numa área de mata fechada do interior do Amazonas e relata momentos de verdadeiro terror, ao ter um encontro “cara a cara” com o ser.
“Foi em fevereiro de 1998. Naquela época, gostava muito de caçar com meu pai perto de um sítio que tínhamos, quando morávamos no interior. Capivara, porco do mato, até tamanduá a gente pegava. Todos os dias era um bicho diferente. O problema foi que não era só para sobreviver. Papai tinha prazer de matar os animais e eu estava indo no mesmo ritmo. Ele é falecido, mas queria que estivesse aqui para confirmar meu relato”, relembra.
Naquele mês, pai e filho foram para a mata, como de costume e experimentaram o sobrenatural.
“Deu 18h, estávamos voltando com um filhote de capivara morto e meu pai, de repente, começou a se sentir muito nervoso. Perguntei o que havia acontecido e ele disse que estava sentindo uma forte dor na nádega esquerda. Pensei que tivesse sido picado por uma cobra, alguma coisa, mas o que vimos foram marcas de dentes pontiagudos. Como se tivesse sido mordido por caninos bem afiados”, comenta.
“Cabritão” disse que o pai começou a sentir-se muito mal e caiu no local, desacordado. “Comecei a gritar por socorro e nada de ninguém ouvir. Estava anoitecendo, fiquei desorientado, além de uma sensação fortíssima de ser observado. Até que ouvi um som bem fino, ao longe, que depois se tornou algo grave e muito próximo. O que eu vi, me deixa de cabelos arrepiados até hoje”, afirma.
Pequeno, muito peludo, os dentes esverdeados e os olhos cor de fogo. Pés voltados para trás e uma expressão macabra. Esta era figura que se aproximou de “Cabritão” naquela noite.
“Que coisa pavorosa, mano! Pensei até que era o ‘capeta’. Olhei para os lados e já estava tudo escuro. O que iluminava era uma pequena lanterna que tinha em mãos. E o pior ainda estava por vir: o bicho feio falou comigo com um ‘português’ de deixar muita gente de ‘queixo caído’”, relatou de mãos trêmulas.
Com o curupira diante dos olhos, o homem conta que o ser explicou o motivo de seu pai ter desmaiado e que não iria deixar os dois saírem da floresta com vida.
“Era castigo. Me disse que tinha dado uma mordida nele e colocado um veneno, para que ele morresse. O próximo seria eu. Comecei a chorar, pedir clemência, que nunca mais na vida iria fazer isso com os animais e nem deixar meu pai fazer isso com os bichos”, disse em lágrimas.
Curupira impõe condições
“A fera me disse que até poderíamos sair vivos de lá, mas eu teria que pagar um preço. Olhei para minha espingarda, apertei o gatilho, mas não disparava. Então, resolvi aceitar. Quando perguntei o que era, aquele ser me falou a coisa mais louca da vida. Contou que tinha uma mulher e que era estéril. Não conseguia fazer um filho nela. Seu sonho era ser pai”, explica.
A testemunha afirma que a “prova de fogo” foi “dura” para ele e o pai escaparem da mata. “Era o que me faltava. Pediu para eu ‘cobrir’ a dona curupira. Fazer um filho nela, que ele ia ficar assistindo. Entrei em pânico. Eu era virgem, não queria ter minha primeira experiência com aquela coisa”, fala indignado.
Amor forçado
Não houve jeito. Com medo de morrer e o pai ser o próximo, ‘Cabritão’ afirma que o curupira ordenou que ele tirasse a roupa e deitasse no chão.
“Fiz o que ele estava mandando, mas como não era do meu querer, não conseguia ter ereção. Ele me deu uma espécie de líquido das matas e, de repente, estava pronto. Foi quando vi aquela coisa feia, grunhindo, se aproximando de mim e ele sentado numa pedra, observando tudo. Pensa numa coisa peluda. Ela ficou em cima de mim. Seu cheiro parecia enxofre com pelo de cachorro molhado. Fechei os olhos. Queria era sair com vida”, conta chorando, novamente.
O curupira afirmou, ainda, que pai e filho estavam livres, mas que precisava tirar o veneno da nádega do pai de ‘Cabritão’ da mesma forma que havia sido colocada.
“Ele colocou meu pai de bruços numa pedra, pôs a boca onde havia injetado o veneno. Sugava e cuspia, sugava e cuspia, saindo um líquido esverdeado. Depois de ver aquilo com nojo, percebi que papai havia acordado e não teve reação nenhuma, assistindo a aquela coisa sugar sua nádega. Só ficou paralisado”, comenta.
Após isso, a fera disse que os dois poderiam se vestir. Deveriam caminhar quinhentos metros para o leste.
“Vi aquele casal desaparecer mata adentro. Conseguimos sair. Nesse tempo, papai e eu juramos que jamais revelaríamos esse segredo humilhante para ninguém. Hoje, passados mais de 20 anos, sinto que posso falar. Nunca mais quis saber de caçar e nem entrar em mata”, diz revoltado.
A carta
O fruto da noite de ‘amor’ entre ‘Cabritão’ e a curupira fêmea deu resultados. Depois de nove meses, o homem afirma que recebeu uma carta com novidades macabras.
“Era aquele bicho mandando mensagem, dizendo que o filho dele com a mulher horrorosa dele havia nascido. O pior, era a minha cara”, finaliza.
*A reportagem é de Carlos Araújo do portal Em Tempo
*Edição Web: Bruna Oliveira/portal Em Tempo
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