CULTURA- Ailton Krenak é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras e o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL.
Autor dos livros Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil e Futuro Ancestral, Krenak é filósofo, escritor e ambientalista engajado em mostrar novos jeitos de viver.
“É preciso parar a velocidade do progresso para chegarmos no futuro com alguma chance de restauração. Estamos atrasados. O que vamos ter de aprender daqui para frente é mitigar. A ideia de progresso nasceu com a noção de que estávamos constituindo uma experiência vitoriosa sobre a vida aqui na terra. Isso foi um engano”, disse o novo imortal em uma entrevista a Morris Kachani, em 2020.
Krenak era mesmo o favorito em uma eleição que contava com 11 candidatos. Ele teve 23 votos.
A historiadora Mary Del Priore, autora de uma significativa obra acessível ao grande público, foi a segunda mais votada, com 12 votos.
Daniel Munduruku, pioneiro da literatura indígena escrita e o primeiro autor indígena a publicar um livro para crianças não-indígenas recebeu 4 votos.
A trajetória de Ailton Krenak
Membro da Academia Mineira de Letras, ele é professor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pela Universidade de Brasília (UnB).
Ele venceu o Prêmio Juca Pato em 2020 como intelectual do ano e é presença frequente em debates e eventos literários. O escritor vive na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG).
Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953, em Itabirinha, na região do Rio Doce, em Minas Gerais, e se mudou com a família para o Paraná aos 17 anos.
Lá, se alfabetizou e iniciou sua vida profissional, como produtor gráfico e jornalista.
Na década de 1980, passou a se dedicar exclusivamente ao movimento indígena e fundou, em 1985, a ONG Núcleo de Cultura Indígena.
Na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, ele teve papel essencial.
Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas e em 1989, participou da Aliança dos Povos da Floresta.
Uma década depois, em 1999, sua obra O Eterno Retorno do Encontro foi publicado no volume A Outra Margem do Ocidente, organizado por Adauto Novaes.
Entre 2003 e 2010, Krenak esteve mais próximo da política e foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas.
Seguiu na militância e no debate público, com participação em seminários, conferências, e, em 2018, foi um dos protagonistas de uma série Guerras do Brasil.
Além dos livros publicados recentemente pela Companhia das Letras, a Azougue dedicou um volume da série Encontros a Krenak.
Com organização de Sérgio Cohn, o livro reúne entrevistas concedidas por ele entre 1984 e 2013. Os livros de Ailton Krenak estão publicados em cerca de 13 países.
Quem concorreu à vaga na ABL
Além de Krenak, Mary Del Priore e Daniel Munduruku, participaram da disputa pela cadeira 5 os seguintes candidatos:
- Antonio Helio da Silva, poeta e escritor cearense;
- J. M. Monteirás, escritor paulista;
- Raquel Naveira, escritora, poeta e jornalista mato-grossense-do-sul;
- Chirles Oliveira, paulista, professora, coach de carreira e mestre em comunicação;
- José Cesar Castro Alves Ferreira, escritor, artista plástico e político carioca;
- Gabriel Nascente, poeta goiano;
- Ney Suassuna, ex-senador;
- Denilson Marques da Silva, escritor, poeta artista plástico e ensaísta carioca.