BRASÍLIA — A responsável pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), Rosana Leite de Melo, esclareceu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a versão infantil da vacina contra o novo coronavírus para crianças maiores de 5 anos não teve “nenhuma preocupação séria de segurança” identificada nos testes clínicos. Rosana enviou uma nota técnica ao Supremo sobre o assunto após pedido do ministro Ricardo Lewandowski, do STF. A posição é contrária às falas do presidente Jair Bolsonaro.
No documento enviado ao Supremo, Rosana explica que as vacinas estão “sendo monitoradas quanto à segurança com o programa de monitoramento de segurança mais abrangente e intenso da história do Brasil”. Além disso, a secretária afirma que a análise técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é feita de “forma rigorosa e com toda a cautela necessária”.
“Antes de recomendar a vacinação [contra a] Covid-19 para crianças, os cientistas realizaram testes clínicos com milhares de crianças e nenhuma preocupação séria de segurança foi identificada”, aponta documento ao qual G1 teve acesso.
A nota técnica foi uma resposta ao ministro do STF Ricardo Lewandowski que, na última sexta-feira, solicitou manifestação do governo federal, em até cinco dias, sobre a exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos.
Após a Anvisa autorizar o uso da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, o presidente Jair Bolsonaro declarou a jornalistas que, se depender dele, será necessário receita médica para a realização da vacinação.
— Se depender de mim, é o pai que decide (se a criança deve receber a vacina). Vai pedir receita médica também. Não é o governador ou prefeito quem vai decidir isso. Liguei para o Queiroga e dei uma diretriz para ele. Obviamente, é ele quem bate o martelo porque é o médico da equipe. Vai passar pela Saúde — disse Bolsonaro na ocasião.
— Os óbitos de crianças estão dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais. Ou seja, isso favorece que o ministério possa tomar uma decisão baseada na evidência científica de qualidade, na questão da segurança, na questão da eficácia — informou o ministro a jornalistas.
Mortes de crianças
No Brasil, 301 crianças morreram em decorrência da doença desde a chegada do coronavírus até o dia 6 de dezembro, o que, em 21 meses de pandemia, significa 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias.
A consulta pública sobre a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos contra a Covid foi oficializada na semana passada e preocupa especialistas em saúde.
Dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, vinculada ao Ministério da Saúde, mostram que 2.978 diagnósticos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid ocorreram em crianças de 5 a 11 anos, com 156 mortes, em 2020. E em 2021, já foram registrados 3.185 casos nessa faixa etária, com 145 mortes, totalizando 6.163 casos e 301 mortes desde o início da pandemia
Além dos casos de SRAG por Covid, até o último dia 27 de novembro, foram confirmados 1.412 casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica associada à Covid-19 em crianças e adolescentes de zero a 19 anos. Destas, 85 crianças morreram, segundo a Conitec.
Com base nesses dados, a câmara técnica emitiu comunicado em que apoia de forma unânime a vacinação em crianças.
Foto: OSCAR DEL POZO / AFP
Fonte: O GLOBO