A transferência da Copa América para o Brasil, anunciada nesta segunda-feira (31) pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), causou repercussões negativas entre governos estaduais e no Congresso Nacional.
Em pronunciamento na noite desta segunda-feira (31), o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que a realização do evento no país não está confirmada.
“Ainda não tem nada certo, quero pontuar de forma bem clara. Estamos no meio do processo”, disse Ramos. Segundo o ministro, após receber a solicitação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na manhã desta segunda, o governo está “fazendo os esforços para caso a gente venha realizar a Copa América, por se tratar de um evento privado, a CBF negocie com os estados e municípios”.
Reação
Pelo menos duas unidades da federação se pronunciaram para informar que não vão aceitar receber jogos e, em diversas outras, as gestões estaduais foram taxativas: não vão realizar partidas com presença de público sob nenhuma circunstância.
Na CPI da Covid, o assunto incentivou um requerimento para que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo, compareça à comissão para dar explicações. O pedido é de autoria do Senador Randolfe Rodrigues (Rede).
“Nossa missão é apurar fatos e estancar essa crise, evitando mais mortes”, postou Rodrigues em seu perfil no Twitter.
Entre os estados, governadores já negaram a realização de partidas no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. No Rio Grande do Sul, o governo divulgou nota afirmando que é “inoportuno” receber jogos neste momento.
“Apesar de sermos um dos estados com estrutura física disponível, não temos hoje os níveis de segurança epidemiológica para a realização do evento”, postou Fátima Bezerra (PT), governadora do Rio Grande do Norte.
Em outras regiões, os governos locais assumem a possibilidade de sediar partidas, mas alertam que isso só será possível com cumprimento das medidas de contenção da propagação do coronavírus. Comunicados dessa natureza foram divulgados pela Bahia e São Paulo.
“Não será permitido público. Se a exigência é ter público, aqui na Bahia não terá”, postou o governador da Bahia, Rui Costa (PT).
O campeonato estava previsto para acontecer na Colômbia de a Argentina, mas os governos dos dois países cancelaram a possibilidade.
No caso da Argentina a decisão foi motivada pelo agravamento da pandemia e anunciada no domingo (30). Já a Colômbia desistiu da competição há cerca de dez dias, frente às tensões sociais provocadas por repressão violenta do governo a manifestações de trabalhadores.
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As partidas no Brasil terão início no dia 13 de junho e seguirão até 10 de julho. A Conmebol agradeceu publicamente o apoio do presidente Jair Bolsonaro em “abrir as portas” do país para o campeonato.
Segundo o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, o Brasil vive “um momento de estabilidade” em relação à pandemia e a gestão de Bolsonaro “demonstrou agilidade e capacidade de decisão em um momento fundamental para o futebol sul-americano”.
Até esta segunda-feira (31), o Brasil contabilizava mais de 16,5 milhões de contaminados pelo coronavírus desde os primeiros registros. O número de casos simultâneos em acompanhamento é de 1,1 milhão e a covid-19 já matou mais de 462 mil pessoas no país.
Reação no Congresso
O fato de que o governo aceitou a realização do campeonato em território nacional pode endossar a tese de que a gestão de Bolsonaro atua conscientemente para aumentar a propagação do coronavírus no Brasil, tema muito presente nas discussões políticas sobre o assunto.
Um dos pontos mais criticados foi a rapidez da resposta do governo brasileiro. As críticas vieram de representantes alinhados a diversas correntes políticas.
“A Copa América no Brasil mostra como regimes autoritários usam o futebol para tentar desviar a atenção sobre seus crimes”, postou o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Alertas da ciência
Nas redes sociais, a recepção à ideia reuniu críticas e alertas também de cientistas, médicos e pesquisadores, que consideram o momento absolutamente inadequado, já que o Brasil vive um platô altíssimo de novos casos e óbitos.