Durante o I Fórum Municipal de Vacinação, realizado pela Prefeitura de Manaus, na manhã desta quarta-feira (16), no Novotel Manaus, no Distrito Industrial, zona Sul, a titular da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Shádia Fraxe, chamou atenção para a redução gradual da cobertura vacinal na capital e alertou para o risco elevado do retorno de doenças imunopreveníveis, já controladas ou erradicadas no país, como o sarampo e a poliomielite.
Com o tema “Imunoprevenção, uma responsabilidade de todos”, o fórum reuniu gestores e especialistas com o objetivo de discutir o tema e mobilizar profissionais e instituições da esfera pública e privada, para a promoção de estratégias que permitam a recuperação dos percentuais de vacinação adequados para as vacinas disponíveis, em especial as dirigidas às crianças de 0 a 14 anos.
Participaram do evento representantes da área da saúde, universidades públicas e privadas, fundações de saúde, cooperativas, conselhos e associações médicas, órgãos de controle, além da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Fiocruz e Ministério da Saúde.
Índices
Responsável pelo tema de abertura, “Contexto da Imunização em Manaus”, Shádia Fraxe apresentou os índices de cobertura vacinal para as principais doenças de monitoramento nacional e destacou a necessidade de estratégias conjuntas para ampliar a adesão da população às vacinas disponíveis e garantir a elevação dos índices de cobertura vacinal ao patamar mínimo de 95%, conforme recomenda o Ministério da Saúde.
“O nível de cobertura vacinal no Brasil está em queda desde 2015, nos aproximando do que tínhamos na década de 1980, o que é triste e inadmissível”, disse a secretária.
Série histórica de 2014 a 2021 mostra que, em Manaus, as nove principais vacinas aplicadas no primeiro ano de vida tiveram queda de cobertura neste período e que apenas a BCG, que protege contra formas graves da tuberculose e é aplicada nas maternidades logo após o nascimento, se mantém acima da meta, embora tenha caído de 134% em 2014 para 98,6% em 2021.
As vacinas contra o rotavírus humano, a hepatite A, a poliomielite e a vacina pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo B) estão com cobertura abaixo de 70%, de acordo com dados de 2021. Todas tiveram redução na cobertura nos últimos sete anos.
Já a vacina contra o meningococo C e as vacinas pneumocócica e tríplice viral D1 (sarampo, rubéola e caxumba) registraram, em 2021, menos de 80% de cobertura vacinal em crianças manauenses menores de 1 ano.
O menor índice verificado é a da febre amarela (55,3%), considerado crítico e inadmissível, especialmente porque a região Norte é área endêmica para a doença. “Na comparação nacional, Manaus ainda tem médias de cobertura maiores que o Brasil, mas isso não nos conforta porque, de fato, temos um problema sério a resolver e é determinação do prefeito David Almeida que a atual gestão faça todos os esforços para reverter essa perda histórica”, assegurou a secretária.
Shádia salientou que a interrupção na vacinação, mesmo que por períodos reduzidos, aumenta a probabilidade de surtos e a exposição a doenças, sequelas e mortes. Ela citou o exemplo de reintrodução do sarampo no Brasil em 2018 e o surgimento recente de um caso de poliomielite pelo vírus selvagem tipo I em Malawi, na África, colocando a comunidade mundial em alerta.
A secretária também ressaltou que, com a redução gradual de cobertura vacinal observada no restante do país e no mundo, organismos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o próprio Ministério da Saúde têm chamado atenção para o problema. Segundo ela, a pandemia de Covid-19 agravou a baixa cobertura, mas não é sua principal causa.
De acordo com Shádia Fraxe, as fake news estão entre os fatores que impactam na adesão às vacinas. Informações sem fundamento e também a falta de prioridade da vacinação entre as famílias, seja pela vida corrida ou mesmo pela ideia de que, com as doenças controladas, as vacinas não são mais tão importantes, afastam a comunidade das salas de vacina.
“As coberturas vacinais abaixo do que preconizam os organismos internacionais trazem um risco real e é preciso que todos percebam a gravidade deste problema e sintam-se responsáveis pela mudança do cenário”, alertou. Para a secretária, “é fundamental que diferentes agentes de saúde, governos e a sociedade civil de modo geral, atuem unidos para desconstruir mitos e notícias falsas sobre a vacinação”.
Ações
Como medida prática, a Semsa propôs, no evento, a elaboração da “Carta de Manaus”, como demonstração de compromisso da prefeitura e representantes da sociedade civil organizada com a ampliação da vacinação na capital. Uma minuta do documento já está formatada e será enviada para que os órgãos presentes ao fórum, assinem o texto final, após contribuições e aprovação.
Também como estratégia para reverter a baixa cobertura vacinal, a Prefeitura de Manaus elaborou uma campanha publicitária, apresentada pela secretária Shádia Fraxe durante o fórum. A campanha já está no ar e é dirigida aos pais e responsáveis por crianças de 0 a 14 anos. Com o tema “Toda Vacina é Importante”, as peças chamam a atenção para a necessidade de manter o cartão de vacinação das crianças atualizado, conforme indicação do calendário vacinal.
“Não queremos apenas expor um problema e fazer alertas sem ter iniciativas próprias que reafirmem nosso compromisso em melhorar a qualidade de vida da nossa população”, disse Shádia.
O fórum contou com outras três apresentações: “Imunização: evolução e perspectivas”, feita pela representante da Sociedade Brasileira de Imunizações, Amanda Alecrim; “Segurança e eficácia das vacinas”, apresentada pela imunopediatra Solange Dourado, da Sociedade Brasileira de Pediatria e coordenadora do Centro de Referência de Imunobiológicos (Crie/AM); e “Promoção da vacinação em Manaus e a estrutura disponível na rede municipal de saúde”, abordada pelo subsecretário municipal de Gestão da Saúde, Djalma Coelho.
Parcerias
O I Fórum Municipal de Vacinação teve a participação de aproximadamente 300 pessoas, entre gestores e técnicos de saúde municipal, estadual e federal e órgãos interessados em discutir o assunto e contribuir com soluções.
O presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), Jorge Carneiro, disse que a cobertura vacinal é o grande desafio do momento e que é urgente restaurar a tradição nacional na área de imunização. “A vacina é a maior estratégia para prevenir doenças e é necessário termos um polo de formação e preparação de informações corretas, capazes de gerar respostas positivas”, comentou.
A presidente da Sociedade Amazonense de Pediatria (Saped), Elena Marta, também destacou a necessidade do convencimento permanente da população para a importância da vacinação, com a disseminação de informações seguras. “A vacinação é uma das ações mais importantes da saúde pública e é necessário combater mitos e fake news que correm livremente”. Segundo ela, esse é o momento dos governos e da comunidade científica criarem ações fortes para reforçar a importância da vacina.
Há 48 anos trabalhando com doenças preveníveis e não preveníveis, o diretor-presidente da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Marcus Guerra, destacou que a vacinação é uma das atividades mais importantes para reduzir o impacto social das doenças.
A união das esferas municipal, estadual e federal foi destacada pelo representante do Ministério da Saúde, Paulo Ricardo Lima Loureiro. Para ele, não é possível perder o “troféu” que o Brasil conquistou com o Programa Nacional de Imunizações (PNI) ao longo dos anos e “com ações como essas, vamos conseguir”, afirmou.
O fórum também contou com o depoimento do conselheiro do Conselho Municipal de Saúde, Elson Melo, que foi afetado pela poliomielite pela falta de vacinação. Elson deu um depoimento evidenciando o papel da vacina na prevenção da doença.